segunda-feira, 29 de abril de 2013

tempo que vem

de pensar em alguma coisa do mundo

percebi tudo esvaindo

a memória não quer estar à lembrança

aquela está é a dentro dos ineditismos

sábado, 27 de abril de 2013

fantasia

de mim, não lembro um pedaço

que pensei meu

mas que era na verdade o que era a minha vontade.

aquele pedaço tem o ermo do mundo

como todas as coisas

que se fingem de nomes

e partem até domesticáveis

para seus cantos e destinos.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Construção

diz-se que uma construção está pronta quando acabada.
mas, há pouco, vi, entre seus vãos, a cor do céu:

a construção está pronta quando combina no mundo.

sábado, 13 de abril de 2013

chuva

o homem se demora na chuva, porque sabe que nada mais pode ser feito em seu corpo. Nele já estão os dentes, a pele manchada, o espirro, os dedos, os rins, os vestígios de sangue por todos os lados. por isso sabe o que cabe em si e também conhece que o corpo não pode transbordar a pele.

aquele homem na chuva está de sentir, por isso vai batendo os pés na água: o corpo quer tocá-la sã e transparente. mas o amor que carrega não sai, não parte - em longe ou em dois: não se soluciona em fim.
seu amor é olhar pra si e ver-se intermitentemente outro, o outro dos seus olhos. outro que o vê como neblina: breve.
seu amor resta só aos sentidos, é o seu corpo que não muda mais, que o leva a caminhos.

uma vez até esteve sentado em uma escadaria da Sé e sabia que sua cidade era lá, apenas aquela parte. onde, ainda outra uma vez, estiveram a iniciar os laços, as palavras que se prendem até formar presentes.

e só disso, deste encontro, seu corpo, as frases, a experiência restringiram o homem aos efeitos da chuva: a solidão das gotas frias.



sábado, 6 de abril de 2013

puído

sem formas

feito tecido puído

sem jeito

está.  aquela noite

e eu.

sabendo longe: sei lá,

onde foi que nos cansamos.