domingo, 1 de setembro de 2013

Despedida

É exato que este blog se fine em Setembro, em seu início, enquanto se  espera pela primavera e o verão.

Obrigada a quem aqui veio, alguma vez, zelar minhas palavras.

setembro

setembro continua inconsciente em mim

como se feito de véus de eus

de onde me partem mar e horizonte.

é  mês que nem noite de dentro

nunca se acende.









sábado, 24 de agosto de 2013

até perder o sentido

uma pessoa
não pode ser qualquer pessoa
a pessoa que chamo
é aquela pessoa
que às vezes penso que
                 [não é uma pessoa.
pessoa que está perto de outras
                 [pessoas.

será que não sou uma pessoa?

mas se se gosta de uma pessoa
então se é uma pessoa?
uma só pessoa
para abarcar o não se ter
                 [de uma pessoa.

Interlocutor

um dedo de prosa,

no tamanho de versos
          [para alegrar o meu dia.

dos versos que se elegerem
a este posto de minha felicidade.

estou de individual beleza
e egoísmo
preciso saber de mim,
        [com outras palavras.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Saudade Contemporânea

no aberto do mundo
se tem todas as coisas

e ainda que sem calendário
me toma uma saudade
contemporânea

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Ciclo de mim

durante o dia, me dá uma sede...
e em toda palavra há água
sou banhada, dela.
e à tarde ela evapora
e vai: saindo, saindo névoa de mim.

domingo, 21 de julho de 2013

dotes

Meus dotes são
          [de apenas me levar no Mundo
Não há paragens para o amor

Não há encontro

Não há noite

Não há dia

Não há o pertencimento de tantas coisas

domingo, 14 de julho de 2013

Josefina me dizia, sobre os meus amores:

- Isso não vai longe.

Meu coração, sem nome, repetia:

- Três passos já me levam a passeio.

17 de setembro

o dia passa por nós
acima de nós.
mas será que o dia também
            [sente falta de alguém
que nem eu sinto saudade de um dia?

Sal

cozinho
por gostar de cortar pedaços
e lavar gostos.
uma parte de mim,
cada pessoa engole.

e o gosto de mim é igual de nuvem
que venta do mar,
salgo os que, por mim, passam.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Cadeia do Invisível

o menor dos mosquitos do mundo
alimenta-se do quê?

e os que não nos levam o sangue
são, por acaso, por dentro, invisíveis?

o céu não é longe

o céu já começa do chão
invade toda a estatura

o céu é disperso até o embaixo.

sábado, 6 de julho de 2013

Infinitude

sê de mim
sede de diminuir
a saciedade


quarta-feira, 3 de julho de 2013

Tamanhos

no balanço do vento
as existências não sentem o frio
elas balançam e parece que andam
[de ir e voltar

mas só no furacão
certas coisas, as pesadas,
conhecem o que as folhas
sabem
desde a primavera

sábado, 29 de junho de 2013

Sem Vistas

a minha vida é de sem suspeitas

apesar do tanto de sentir

o dia dura todo dia a mesma hora

uma parte do mundo me leva à outra

mas nunca as esquinas servem ao seu encontro.






domingo, 23 de junho de 2013

uma rua que quase existiu

a rua é limpa
cheira à gente
às 14:57
às 18:00 horas
às 23:36
às 03:41. a rua
continua inestimável.

sábado, 22 de junho de 2013

é noite querendo pro dia:
amor platônico.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Derreter

o meu corpo é mole


segue o balanço

da cadeira

do destino

do ônibus

de olhos atentos

mas

às vezes

a gente me empurra

feito eu não existisse

e morresse.












domingo, 9 de junho de 2013

cana-de-açúcar

a cana-de-açúcar

é o embalo da terra

como quarta-feira de feriado.

se nela venta,

vem o assobio de tempestade

e o que se pode cair dela

é aquela aguardente.






Todo

Um dia, os sons distantes passaram a se reproduzir constantemente em si. Em seu ouvido, em certos dias, se ouvia sempre. sempre o mesmo som.

Houve tempo, por exemplo, que apenas a palavras antena ressoava-lhe por dentro: dos ouvidos ao sangue. Aí, só via céu. Não existia mais capacidade de olhar o chão. Passava entre a gente na calçada e não era mais possível contá-las. Conheceu a quase morte em todos os semáforos. E descobriu que o céu reflete outras instâncias: daquelas que atuam por dentro, sem um ponto objetivo. Mas é difícil de nos dar conta, pois dói o pescoço.

Era um incômodo ensurdecer-se de um som só. Não era capaz de continuar seus livros, a retratar-se consigo no espelho, a adiantar pensamentos. Apenas podia ser o que o som emitia.
Mas houve caso de gostar:

À noite, algo criava um desconforto. Acordou e seu deu conta do novo som: o mar. O desconforto era sendo o mar, que, àquela hora, subia cada vez mais à areia.
Não retornou ao sono, era bom ser água se mexendo, em início de oceano.

Já de dia, foi sendo seguindo o mar até sua beira, que o puxaria a reverso: a sensação do mar aberto, se parindo com a gente que o adentrava. Era um rasgo.

Passou o dia ao mar. Sua pele desmanchando, aberta e foi a primeira vez que o som o findou.
Sentiu-se fim.

Decidiu, então, estar lá, naquela necessidade de imensidão individual: o mar é de cada um quando olha.
Ser navegante de barca própria onde pôde cuidar de ser cada som, enquanto as ondas o também navegavam, quase o embalavam por dentro. Talvez um filho de todas as pequenas existências. Era, agora, um incômodo generoso.

domingo, 2 de junho de 2013

quantidade

as coisas já existiam em quantidade.

elas surgiram

e não era preciso contá-las:

adição e multiplicação

eram artes desnecessárias

o mundo não se identificava por números.

domingo, 26 de maio de 2013

cicatriz

a cicatriz

é feito afluente de rio seco

fica só rastro

do que fora original.

Havana (coleção de fotos imaginárias)

existe

dentro da gente

um espaço de fim

tal como Havana

em começo de janeiro?



(onde o vento

mareja a tarde ...)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

a tarde

a tarde,

calorosa, passa

dando tchau às existências vespertinas:

pipa, vento, cheiro, fruta caindo

para guardar-se dentro do corpo

para estar em qualquer horário.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Árvores

uma árvore, é normal,

ao lado da outra

e senão

da parte só

árvore não tem:

a semente, do alto,

nasceu para o chão,

acompanhando todo espaço.




domingo, 12 de maio de 2013

Preguiçando

vou preguiçando

mas não passe
não vá, dia.

quero suspeitar do silêncio de todas as coisas,

das minúcias da tarde inútil.

sábado, 4 de maio de 2013

caminhos

no alto

as folhas direcionam o vento.

no chão

quem nos leva somos nós mesmos.


quarta-feira, 1 de maio de 2013

na calçada não se encontram os caminhos

mas se seguindo segue sempre

dá para ver quase o labirinto.



segunda-feira, 29 de abril de 2013

tempo que vem

de pensar em alguma coisa do mundo

percebi tudo esvaindo

a memória não quer estar à lembrança

aquela está é a dentro dos ineditismos

sábado, 27 de abril de 2013

fantasia

de mim, não lembro um pedaço

que pensei meu

mas que era na verdade o que era a minha vontade.

aquele pedaço tem o ermo do mundo

como todas as coisas

que se fingem de nomes

e partem até domesticáveis

para seus cantos e destinos.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Construção

diz-se que uma construção está pronta quando acabada.
mas, há pouco, vi, entre seus vãos, a cor do céu:

a construção está pronta quando combina no mundo.

sábado, 13 de abril de 2013

chuva

o homem se demora na chuva, porque sabe que nada mais pode ser feito em seu corpo. Nele já estão os dentes, a pele manchada, o espirro, os dedos, os rins, os vestígios de sangue por todos os lados. por isso sabe o que cabe em si e também conhece que o corpo não pode transbordar a pele.

aquele homem na chuva está de sentir, por isso vai batendo os pés na água: o corpo quer tocá-la sã e transparente. mas o amor que carrega não sai, não parte - em longe ou em dois: não se soluciona em fim.
seu amor é olhar pra si e ver-se intermitentemente outro, o outro dos seus olhos. outro que o vê como neblina: breve.
seu amor resta só aos sentidos, é o seu corpo que não muda mais, que o leva a caminhos.

uma vez até esteve sentado em uma escadaria da Sé e sabia que sua cidade era lá, apenas aquela parte. onde, ainda outra uma vez, estiveram a iniciar os laços, as palavras que se prendem até formar presentes.

e só disso, deste encontro, seu corpo, as frases, a experiência restringiram o homem aos efeitos da chuva: a solidão das gotas frias.



sábado, 6 de abril de 2013

puído

sem formas

feito tecido puído

sem jeito

está.  aquela noite

e eu.

sabendo longe: sei lá,

onde foi que nos cansamos.







sábado, 16 de março de 2013

Pés

eu resolvi acompanhá-lo. meu passo doeria se o deixasse para trás.

o senhor pois que tentava estar na multidão, mas seu andar era lento, era o andar que a vida já sugeria. No metrô, cada um o ultrapassava. Segui-o em sua velocidade: o senhor passou a reger meu pés e o tempo do meu destino.
fui devagar contando os pés, olhando os outros que nos deixavam à vinda dos outros. díspares entre todos. no fim, na saída, ele se foi levando consigo, sem saída, toda a demora da existência.  

Desfile

eu passo em frente a muitas coisas

e dentro de mim nada fica.

sou imaculada às coisas:

ao molhado da chuva que vejo.
à sensação dos dedos
aos discípulos da gente.


domingo, 10 de março de 2013

Unilateral

eu senti tanto por mim
que fui me descolando
[em pedaços
porque o que eu sentia
[era meu
e não a verdade.

sábado, 2 de março de 2013

terço

o horário de pico
é o terço,

que os homens pregam
em marcha Ré.

é a reza
acordada entre eles,

presa em seus pescoços
e em dia comum
ou santo.





sábado, 23 de fevereiro de 2013

saudadasse

saudei a saudade
salvei-a de ir embora
porque pedi que ficasse
e enchesse meu peito,
abrisse meus olhos
para que eu saudasse,
saudadasse,
sem mais só.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O corpo de fora

se é assim, sem jeito,
que a gente cresce.
por que é que os cabelos nascem retos?
o corpo desfaz o de dentro?

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O peixe

Ele deveria me deixar olhá-lo enquanto ele olha os peixes.

Impressiono-me do tanto pra que o corpo foi feito. por isso, ele me deveria deixar vê-lo. Não como ele olha para o peixe, com enigma, mas com afinco. Feito como o corpo foi feito, sem escamas.

Se me permitisse olhá-lo enquanto se imaginasse peixe, eu bateria - por dentro - palmas, pois se imagina sendo coisa.

(Eu já me imaginei ladeira, pra ver correr o alto).

Se eu pudesse olhá-lo como sempre, com os vasilhames, aquários de dentro, porque agora olha o peixe.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Pertinha

a noite há
agora
pertinha da  gente.

sábado, 26 de janeiro de 2013

De sempre fazer

os braços não podem ficar presos ao corpo.
devem partir
ao enlaço

das tardes.

quando acontece dos pés

sem justificativa.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Dia

podia
um dia
assim por dentro
o dia
desfazer a minha agonia
na hora do pôr do sol?

sábado, 12 de janeiro de 2013

afísico

É sentimento.

Não é fome.
          casamento.
          festa.
          aluguel.




Não há sólido que o resolva.

sábado, 5 de janeiro de 2013

sentir

sinto muito
pelo o que sinto. muito.
tanto que não esqueço.

sinto muito
de sentir
como se houvesse apenas
mares,
horizontes,
memória
dentro de mim.

sinto muito,
amor,
inexplicável.

sinto pouco pelos outros
porque não cabe tudo em mim.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Navios

Eu me encanto de navios cargueiros.

gosto das suas cores longe,
do seu peso,
da sua quase anônima gente
(tripulação que se sabe viva porque está no mar)

gosto da distância dos seus afazeres,
das crianças que, como eu, desejam-os.
da sensação que me fazem
(como os regentes e as baleias)
das linhas que criam o horizonte
divergindo Mar de Oceano
e sua luz, claridade, acesa, à noite.