segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O mar de Paraty

O mar não é água.

O mar é onda o tempo todo.

O cuspe é água.

A chuva é água.

O mar se enche na beira,

quase se fazendo ponta,

e calado cai onda.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Dúvida

di-vi-dir
entre ver|ti|cal e
ho-ri-zon-te.
noite que sobe
e cai. ainda (a)clara.

domingo, 11 de novembro de 2012

Data

O mundo me deu uma data
(é a única que sei)
A minha última data é os outros que saberão.


Mas todos os dias são data,
pra qualquer um
ou alguém.
Pra quem sabe a data
ou pra quem só vive nela.
E data mais importante
nem sempre é a de nascimento,
mas a do encontro.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Referencial

Aí há tantas coisas que brincam de outras.

Movimento que é parado.
Elevadores que são chão.
Retrato que é miragem.
Água que é sede.
Palavra que é previsão.

Mundo que é não existe.




A falta do amor nas coisas

Eles deveriam desatar os dedos. Um, sabia-se, não cabia mais no outro. 

Ele sentia-se restante, um resto da cidade - que não refaz absolutamente nada, nem o mesmo caminho ou frase. Foi preciso,  então, alguma vez, admitir o que se é: homem incapaz.
O outro saíra. investigando os sãos, a multidão dos que creem na vida, para compartilhar das certezas.

Ele ficou à janela. 
Depois arrastou os pés até a cozinha, mas  as coisas não se mexiam, as coisas não são vida. Só havia o que é mudo, parado, incompreensível porque não fala. Tudo era o seu corpo, que estava silencioso, quase não funcionando. 
Deitou-se no sofá, aconchegou-se em suas cores, e pôs saudade.
Entregou saudade até na falta de juízo, de saudar os botões que ainda hão de se levar ao chão, como todos os amores.

Anoiteceu e não era mentira. a noite e eles. 
Eles quase sem olhos para o seguinte.