Gustav Mahler
A quarta-feira gesticulou sinfônica: abrindo as cores.
Mas a vontade desta quarta-feira era urgente, cheia de figas: era reconhecer o dia como uma espécie diferente da sua.
No distrito em que os sete dias da semana se enfileiram, cada um assume forma díspar - para amanhecer o mundo de diversas maneiras, sempre brotando ineditismos - diga-se que os dias também dispõem de livre arbítrio.
À quarta-feira, assim, restou o disfarce: não permitiu acontecimentos memoráveis, que não pronunciassem seu nome em telejornais! A ideia era ser quarta-feira assoviando durante vinte e quatro horas - assim desapercebida. E cheia de pisos leves, no brotar da quinta-feira, escondeu-se diante das letras de um outdoor. E de lá foi descobrir o mundo dos outros dias.
Quietinha, a quarta-feira foi se apequenando, tentando ser outra coisa: talismã, ventura ou objeto tangente - algo que rolasse sobre a terra. Mas embevecida, à quase luz da noite, ela testemunhou o nascer do dias dos homens. Em salão majestoso, os contou - que poucos - desvendavam todas as coisas, em partes abriam os homens, em partes transladavam os horários e as ordens internas. Desfaziam. Eram os homens orquestrando qualquer superfície, homens que gesticulavam sinfônicos, em partes, em instrumentos.
Homens díspares que criavam.
Era o belo,
o mais belo
de qualquer homem ou dia.