domingo, 29 de abril de 2012

Urgentemente humano e diário

Gustav Mahler


A quarta-feira gesticulou sinfônica: abrindo as cores. 

Mas a vontade desta quarta-feira era urgente, cheia de figas: era reconhecer o dia como uma espécie diferente da sua. 

No distrito em que os sete dias da semana se enfileiram, cada um assume forma díspar - para amanhecer o mundo de diversas maneiras, sempre brotando ineditismos - diga-se que os dias também dispõem de livre arbítrio. 

À quarta-feira, assim, restou o disfarce: não permitiu acontecimentos memoráveis, que não pronunciassem seu nome em telejornais! A ideia era ser quarta-feira assoviando durante vinte e quatro horas - assim desapercebida. E cheia de pisos leves, no brotar da quinta-feira, escondeu-se diante das letras de um outdoor. E de lá foi descobrir o mundo dos outros dias.

Quietinha, a quarta-feira foi se apequenando, tentando ser outra coisa: talismã, ventura ou objeto tangente - algo que rolasse sobre a terra. Mas embevecida, à quase luz da noite, ela testemunhou o nascer do dias dos homens. Em salão majestoso, os contou - que poucos - desvendavam todas as coisas, em partes abriam os homens, em partes transladavam os horários e as ordens internas. Desfaziam. Eram os homens orquestrando qualquer superfície, homens que gesticulavam sinfônicos, em partes, em instrumentos. 

Homens díspares que criavam.

Era o belo,

o mais belo

de qualquer homem ou dia.  









domingo, 22 de abril de 2012

Antecipamentos de novembro

Te vario
assim:
diante do céu
e como hei de escapar de fugir deste infinito?

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Daquela Noite

Ah,
de ti que ontem eras
Corpo de Mulher.

Corpo de Mulher que parece
estrada.

Estrada branca durante a noite,
Dicionário de Todo o Sentimento.
És caminho por onde se rimas as quietudes.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Esvaziamento

O café-da-manhã estava à mesa, a mesa de breve tom alaranjado. Era como se escoasse continuamente um pedaço dele. Da fome que ele não sentia.
Ele permaneceu na cadeira a vazar: suas invontades infiltrando externamente em seu corpo. Recomendaram que ele estivesse nesta falsa enfermidade por alguns dias. Na exata posição de partida - os olhos rebentos de lugar definido.
De si escoavam pormenores e, pelo cheiro era possível identificar que, dentro dele, havia um outro nome, as denominações outras de outros. E quando desconfiado deste interno, se angustiou com a falta dele mesmo e decidiu se desencher, furar-se e e recobrar-se seu.
Ao longo dos dias, sua cozinha foi somando líquidos e, concomitantemente, uma crosta se fixava em sua face, em seus braços, sem suas pernas, tornando-se irreconhecível. Era um novo rosto, um novo corpo, ainda que menos atraente, ainda que indefinidamente mais magro, quase de uma espécie inútil. Mas já estava próprio. para incrementar-se das idéias e sutilezas suas. Ele não era mais sociedade.