domingo, 29 de julho de 2012

Indiferença às coisas

Das coisas que se joga fora - que utilidade têm?

Se não há transfusão dos sentimentos
E os objetos já nascem mortos.

Se caem e não (se) ferem.

Se o que nos resta de mais importante nas mãos
são os dedos?









domingo, 22 de julho de 2012

Despertar

"Já amanheceram os seus dedos ao som do piano." - era suspendendo os silêncios que recebíamos as auroras.
Ao nascer, definitiva, a manhã, ele retorna - exausto das grandes composições e dos sentimentos intensos e sem finitude - à procura do restante sonho, onde eu - sei - estive, e da realidade: em que meu corpo compreende toda a temperatura necessária e os olhos fechados.
Ali, em pensamento, aguardando seus passos subirem as escadas, fingindo inédito, firmo a ideia de que as auroras o celebram tanto quanto eu: são as luzes do sol.

Mapa - talvez de uma certa saudade


As ruas permanecem sempre,
Nos mesmos lugares,
Pilotando gente.

A gente, às vezes, permanece, sempre,
Em um mesmo endereço.
Contando as mesmas
Chuvas e portas.
Bem crendo na previsibilidade.

Porém, ainda resta gente, que conhece
os diversos itinerários,
Mas que, também, às vezes, para, estático.

(Diante daquela mesma porta sem saída)















                                     

sábado, 7 de julho de 2012

Frescor

Com a comida entre a boca e os dentes - soprou-lhe uma sensação: ser esposa. Via-se num quarto de luz acesa, com as janelas abertas. 
Janelas transmissoras do vento, que terminava por tomar alguma parte dela: esposa onde o vento varre as suas partes.

Imaginando-se esposa só, apreciando - tal como janeiro - a dimensão das paredes brancas, o eco que ali cabia, o descanso de uma noite.

E mulher que sabe que há quem, outro, que dela aguarda o que dela - ela deixa fugir, no vento. 

Era o melhor dos gostos rápidos.