sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A falta do amor nas coisas

Eles deveriam desatar os dedos. Um, sabia-se, não cabia mais no outro. 

Ele sentia-se restante, um resto da cidade - que não refaz absolutamente nada, nem o mesmo caminho ou frase. Foi preciso,  então, alguma vez, admitir o que se é: homem incapaz.
O outro saíra. investigando os sãos, a multidão dos que creem na vida, para compartilhar das certezas.

Ele ficou à janela. 
Depois arrastou os pés até a cozinha, mas  as coisas não se mexiam, as coisas não são vida. Só havia o que é mudo, parado, incompreensível porque não fala. Tudo era o seu corpo, que estava silencioso, quase não funcionando. 
Deitou-se no sofá, aconchegou-se em suas cores, e pôs saudade.
Entregou saudade até na falta de juízo, de saudar os botões que ainda hão de se levar ao chão, como todos os amores.

Anoiteceu e não era mentira. a noite e eles. 
Eles quase sem olhos para o seguinte.

3 comentários:

  1. as coisas não são vida...

    Antes de qualquer coisa, gostei muito, de verdade, caberia aí uma relação homoafetiva?

    Sobre o trecho que copiei de seu texto, ele se liga a um outro poema seu recente, não? Vou até ler os dois para estabelecer as relações entre eles.

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    1. Sim, Luluh, foi construída, pensada em uma relação homoafetiva.

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  2. Oia, então quer dizer que meus palpites interpretativos não são tão ruins assim...

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