sábado, 14 de maio de 2011

Das descobertas

Em meio ao devaneio da cidade, uma criança, sem consciência do caminho e da importância do passo, caminhava com o pai. O fim era o ineditismo do hospital e das convenções do corpo.

Presentes no consultório, o menino esperava sua vez. As dores de cabeça eram insuportáveis, já na curta extensão de Idalício e, futuramente, maior seriam: a dor se alongaria por mais espaço. Todavia, essa já era preocupação secundária, o garoto se voltava, fazia semanas, à idéia que o atormentava: o eletroencefalograma. Ao questionar o pai, obteve a explicação de que o exame seria capaz de desenhar sua cabecinha por dentro e, assim, descobririam o porquê de tanta dor. Idalício entrou em estado de desespero, afinal, seria revelado tudo o que não se pode saber. Aos pais seriam revelados seus pecados!
Deitado na maca branca, fina e indiferente, seus seis anos não ocupavam muito espaço, ainda mais todo encolhido. A médica, talvez, de alguma forma, ausente, fixava de maneira quase simétrica os eletrodos e tudo já ficava com uma nova cor para Idalício - um verde pálido de quem talvez não enxerga. O menino, tenso, esperava pelo momento da mais alta desgraça: pior que a mão no formigueiro em dia de ano novo. Iriam descobrir da sua tentativa de fuga, suas descobertas do sexo. Mas que desespero, meu Deus! Desespero recoberto de coragem que o menino fazia de escudo, feito mocinho de 10 anos.

Durante o exame, silêncio absoluto.

Já de saída e de volta para casa, estranhamente nada se modificou: seus pais nem insinuaram de seus segredos. Mas o menino não se apaziguava, a angústia de estar preso àquele exame estranho, o atormentava. Até que os resultados chegaram e lhe foram mostrados apenas riscos que subiam e desciam e tudo lhe parecia muito estranho, seu por dentro era muito diferente, coisas que ele não sabia identificar. Aquilo o assustou mais do que se seus segredos fossem revelados, mas ainda preferiu que assim fosse. Tudo estava em paz novamente, já podia retornar à sua rotina de 10 horas.

Já de todo esforço, nada valeu: o exame não resultou em nada, nada foi detectado. Porém, Idalício se deu conta, já aos seus 6 anos, de que por dentro não se sabe tudo o que há e o que há de nós não se reflete em luzes e eletricidade.

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