segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Meia voz rouca

Faz dias que ele não acorda bem - mesmo que haja sol – fica meio sentado à janela, esperando que algo aconteça: desfazendo-se do homem de ontem. Fred nunca permanece por muito tempo alguma coisa, porque o dia vem. Na noite anterior, por exemplo, com muito esforço, fora homem jovem, impassível e condenado. Mas logo pela manhã, ele foi perdendo corpo: detectando, gota em gota, partes dos anos, das poses, do toque, da tempestade.
Ele até já havia sido só dois. Contudo, momentaneamente, ele era um rapaz sentado à janela, esperando que algo acontecesse. Mas o acontecer é sempre externo. O acontecido em nós parece não se manifestar em nada evidente. Nem naquela dança flamenca ousada ou na noite em Zaragoza.
Porém, da vez em que esteve em longe, no outro lado do oceano, ele perdeu a chance de confessar: “Londres não é distinta de você.”

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