domingo, 4 de dezembro de 2011

O homem que conheceu uma parte do mundo

Existem maneiras indecoráveis e sem reflexo.

Nele perpetuava-se um certo medo de perder os movimentos - também há de se contemplar o pavor da chuva que descai pelo mundo. para sempre - prudente seria, certas vezes, desentir e contagiar-se de todas as possibilidades do corpo, mas aqui não há prudências.

No acometimento do qualquer dia, para manter-se diversas vezes paralisado, de centenas de outras maneiras, ele passou a ser incapaz de reproduzir um mesmo sentimento. Os problemas desse propenso ineditismo eram inúmeros. Ele já sabia como amar pai e mãe - porque só havia um - mas não descobria como sentir toda a gente que restava no mundo e como amar um brinquedo novo de um jeito diferente do antigo.  Sequer era possível agrupar pessoas na memória, pois, definitivamente, nada existia que as assemelhasse.

Clandestinamente, a vida apresentava outras saídas.

Ele estava sentindo, então, cada vez mais de maneiras racionais: amou a primeira mulher com toda a realidade, e ainda  a primeira mulher com agradecimento, e depois a primeira mulher com amor, e seguidamente a primeira mulher como quadro, e posteriormente a primeira mulher como brinde e assim a primeira mulher como janela - foi de junções a comparações, assim era o seu amor. Da mesma forma sentiu os livros, as floriculturas, os perfumes, as calçadas, os telefones, as divindades ...

Chegou, enfim, o momento em que não pôde mais perceber-se de forma reprisada. Integrava-se ao mundo do eterno paralisamento, onde o sentir suprime o corpo: era necessário interromper-se e enlouquecer definitivamente.


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