sábado, 4 de fevereiro de 2012

Como sentir desnudada

Enquanto a mulher seguia o mar diariamente, sentia. 
Tateava o pôr-do-sol envelhecendo a claridade.

Sendo meio da moda, aquela senhora caminhava pela praia. E, em alguma vez, ela percebeu. Inexplicavelmente, alguma de suas suposições surgia da areia, pois ele gastava o corpo ali, talvez em mais de um dia da semana, entregando-se ao vôlei.
Discretamente, de roupas claras, ela descobriu - sentada em um novo lugar - que ele jogava somente aos domingos em horas de sol. 
Seus outros dias deviam ser luas, pensava ela, que em si ao sol via a noite. Mas, agora, cheia da descoberta, as noites eram, ao menos, de primavera. 
Ela passou a frequentar o mar também, seus pés tocavam, e antecipava sua ida à praia, aos domingos, pois necessitava vê-lo. Era bom conhecer as poses inéditas que o corpo dele podia até perpetuar se quisesse, olhá-lo assim era uma espécie de cura do futuro. E, ainda era morte, pois sendo original e indolor. 
Nos 68 anos que a vida lhe permitia, ela se inaugurava dele sem mais pensar. Inquestionava. 
Porém, foi surgindo uma vontade de não ir embora, de permanecer ali. Mesmo em dias da semana, em julho, na chuva. Ela resolveu se mudar: recolheu empréstimo, a loucura da família e vendeu a antiga casa e comprou um apartamento, de um quarto e um espaço para os livros e a música, no quinto andar, de frente ao horizonte do mundo, em frente à rede dele e, assim, pôde imaginar o quanto aquele espaço podia ser ausente ao mesmo. E tudo com seu corpo tão movimentado quanto à imensidão do que há de externo. Vê-se o mar.


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