domingo, 23 de janeiro de 2011

A grande avenida

Era janeiro cheio de sigilos: sem destino à praia ou ao oceano, a água caía inundando o mundo. Seu corpo já guardava tanta expressão que o lavou com a água gelada.
Não sei, mas acho que foi depois de escovar os dentes, ela estava sentada no sofá e eu a via do quarto. E é disso que tudo trata: da sua enxaqueca emocional. Internamente ela discutia suas relações mundanas como se fossem universais, e não, ela não poderia escapar do universo porque todos amam demais o mundo.
Na noite anterior, esteve na grande avenida - que tal como uma maquete: é previsível em todos os aspectos - não sei o que de lá trouxe, mas foi mais que o corpo e um dia: foi o absurdo. Suspeitava, então, se um instante insuficiente, um centímetro maior ou um plano ausente, retardariam as horas até essa cena.
Restava, então, só a espera da contagem regressiva, para que eu pudesse desvendar a causa daquele paralisamento citadino. Acredito ser uma saudade muito grande, perplexa da própria existência, tal como quem deseja tocar o peito enquanto esse ainda é quente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário