sábado, 15 de janeiro de 2011

Regava as flores vivas

Ela regava flores como se não pensasse em nada. A vida se apresentava à Hélia como a conhecida antecipação do inaugurável, do mesmo jeito que as imagens da TV.
Hélia suspeitava, silenciosamente, da forma inevitável como tudo é concebido: quando ela magicamente impedia uma singela transformação no mundo, na realidade, só possibilitava que o inevitável se concretizasse. Ela ouvia, então, a linearidade da existência rindo, gargalhando em baforadas na sua cara e mais forte suspeitava do quão ironicamente somos feitos. Assim, lavoura cresce ou não.
Ainda criança sofreu seu primeiro lapso, estava em frente à janela de alumínio, Hélia tinha 12 anos e se via deformada no reflexo: legítima. Hélia se via pequena, inútil e feroz.
Agora ela regava flores como se estivesse viva.

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