quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Eclipse de qualquer ano

Era de conhecimento de todos o programado eclipse de 1989.
(Como se não fosse ainda mais irônico prever o universo)

Para ele, Leonardo, de 7 anos, era tão difícil acordar cedo, levantar e encostar meias e pés no chão e cortar o sonho em alguma imagem que não se completaria com mais nenhuma. Entretanto, agora, já quase meio-dia, esperava ansiosamente pela mãe. Ele sabia: era hora do almoço e mais: fim da aula.
O almoço era sempre uma espécie de até mais ver: ele, seguindo os passos da rotina, sentava-se à mesa, no cômodo pintado de amarelo.

(Com a comida posta no prato a mãe o deixou com a avó.
Era dia do eclipse solar e a mãe o abandonara.)

Leonardo ainda não sabia, mas sua concepção de eclipse seria desfeita feito o Japão e ano-que-vem que imaginara. Seu ano-que-vem era um morro recoberto de avenida ... o ano-que-vem era sempre o outro lado.

Já em 1989 para contemplar o sol desvanecer diante da lua, não usavam-se diretamente os olhos. Ainda em 1989, usavam-se filmes de até 36 poses para retirar fotografias. Era a forma de sobreviver a tal ritual unânime: a descoberta da outra cor do sol. Então, na varanda da casa, às três da tarde, todos os dois – menino e avó – tinham em mãos os negativos de fotografias para observar, sem perigos, o eclipse. Pessoas e imagens pareciam ferrugens próximas ao sol.

No momento marcado pela ciência iniciou-se o eclipse. Leonardo se deitou no chão marrom gelado, recoberto de retângulos, da varanda. Do chão via o sol e a lua e diante dele pequenos rostos. O céu escureceu em pleno dia e depois foi molhado por alguma sensação nova. Talvez por uma chuva fictícia dos dias mais intermitentes que os anos bissextos.

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