segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ela

Para Nívia Flores

Não bastava recitar de onde caminhava. Sua expressão seria daqui ou de lá: seu interior não se afastava de dentro e o que havia dela nunca esteve expresso nas condições convencionais. Mas ela não era parlamentar a omitir intenções, só estava sentada, fazia semanas, no Parque Trianon, regendo à distância as missas da cidade, tentando imacular-se.
Porém, não encontrava reza que celebrasse seu digno estado de pessoa à espera da salvação. As palavras das preces eram coros de fevor, eram coros do saber e ela queria ser salva como a cega que pinta o cabelo sem conhecer as cores.
Assim, nessa paralisia, ressoavam há semanas as palavras de amor e zelo, cada uma delas palpitando sem destino, repletas de pensamentos completos e ela não queria nada disso! Queria imacular-se em jardim surpreendente, onde sequer houvesse chão, onde brotasse de outras direções. Outra forma de se fazer boa e exemplar.
Decidiu, já sem a ajuda de Deus, repetir-se em existências - e uma delas permanecia ali, no parque.
Repetir-se "gente,
gente,
gente,
gente"
até não refletir, até não precisar de espelho ou pensamento.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário